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Indústrias Romi (ROMI3): análise fundamentalista revela desconto e riscos de rentabilidade
Relatório mostra que a Romi combina dividendos altos e valuation atrativo, mas enfrenta queda de margens e rentabilidade.
As Indústrias Romi S.A., negociadas na B3 sob o ticker ROMI3, representam um pilar fundamental da indústria de bens de capital brasileira. Com uma história que se estende por quase um século, a empresa consolidou-se como líder na fabricação de máquinas-ferramenta, máquinas para processamento de plásticos e peças de ferro fundido. A companhia se posiciona como um investimento intrinsecamente ligado aos ciclos de investimento produtivo e à saúde da indústria nacional, tornando-se um veículo para investidores que apostam na reindustrialização e no crescimento econômico do Brasil.
Tese de Investimento
A análise da ROMI3 revela um caso clássico de investimento em valor profundo (deep value), combinado com um rendimento de dividendos (dividend yield) notavelmente atrativo. A ação é negociada com múltiplos de valuation significativamente descontados, especialmente o indicador Preço/Valor Patrimonial (P/VP), que se encontra abaixo de seus pares setoriais e de seu próprio histórico. Contudo, este desconto não é arbitrário. A empresa enfrenta uma conjuntura desafiadora, marcada por severas pressões sobre as margens de lucro, uma rentabilidade sobre o capital investido (ROIC) que se posiciona abaixo do custo de capital, e uma sensibilidade exacerbada ao ciclo de juros da economia brasileira.
A tese de investimento, portanto, reside em uma questão central: a atual compressão de lucros representa um ponto de inflexão cíclico, oferecendo uma oportunidade de entrada atrativa a preços deprimidos, ou é um sintoma de deterioração estrutural, caracterizando a ação como uma "armadilha de valor" (value trap)? A resposta determinará o potencial de retorno para o acionista de longo prazo.
Principais Conclusões
A avaliação da companhia revela um balanço de fatores positivos e negativos que devem ser cuidadosamente ponderados:
Fatores Positivos:
Liderança de Mercado: Posição consolidada como líder na indústria brasileira de máquinas e equipamentos, com uma marca de forte reconhecimento.
Solidez Financeira: Um balanço patrimonial robusto, que em trimestres recentes apresentou uma posição de caixa líquido (mais caixa do que dívidas), e indicadores de endividamento e liquidez confortáveis.
Remuneração ao Acionista: Um dividend yield elevado, que se destaca no mercado brasileiro e supera com folga a média de seu setor.
Demanda Resiliente: Uma carteira de pedidos em forte crescimento, sinalizando uma demanda robusta por seus produtos no curto e médio prazo.
Fatores Negativos:
Rentabilidade Declinante: Queda acentuada nos principais indicadores de rentabilidade, como o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) e o Retorno sobre o Capital Investido (ROIC), que se encontram em patamares baixos.
Compressão de Margens: Trajetória de queda consistente nas margens operacionais, indicando dificuldades em repassar custos ou uma mudança no mix de produtos para itens de menor valor agregado.
Destruição de Valor Histórica: O crescimento dos lucros nos últimos cinco anos foi negativo, contrastando com o crescimento da receita no mesmo período, o que sugere uma deterioração da eficiência operacional.
Exposição Macroeconômica: Alta dependência de um cenário macroeconômico local ainda incerto, com a demanda por seus produtos sendo diretamente impactada por taxas de juros elevadas.
Recomendação Estratégica para o Investidor
A alocação de capital em ROMI3 deve ser considerada por investidores com um horizonte de longo prazo e uma elevada tolerância ao risco. O perfil ideal é o daquele que aposta em um cenário macroeconômico favorável, caracterizado por uma queda sustentada da taxa Selic e pela retomada do investimento industrial no Brasil. O principal fator a ser monitorado para a validação da tese de investimento é a recuperação das margens operacionais nos próximos resultados trimestrais, que servirá como o gatilho fundamental para uma potencial reavaliação dos múltiplos da ação.
Perfil Corporativo: Uma Análise Estrutural da Líder em Bens de Capital
Legado e Evolução: De uma oficina em 1930 a uma potência industrial global
A trajetória da Indústrias Romi S.A. se confunde com a própria história da industrialização brasileira. Fundada em 1930 por Américo Emílio Romi na cidade de Santa Bárbara d'Oeste, interior de São Paulo, a empresa iniciou suas atividades como uma modesta oficina de reparo de automóveis chamada "Garage Santa Bárbara".
O ponto de inflexão para a companhia ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. Com a importação de bens de capital severamente restringida, a indústria nacional enfrentava dificuldades para manter e expandir seu parque fabril. Dotado de um espírito empreendedor, Américo Romi percebeu a oportunidade e a necessidade de produzir peças e, posteriormente, máquinas inteiras. Esse movimento culminou na criação do primeiro torno horizontal 100% nacional, o icônico "Romi-Isetta", um marco que estabeleceu a empresa como pioneira no setor.
Hoje, a Romi é uma empresa de renome internacional, com suas ações listadas no "Novo Mercado" da B3, o segmento que exige os mais altos padrões de governança corporativa no Brasil. Sua evolução de uma pequena oficina para uma corporação global demonstra uma notável capacidade de adaptação, inovação e visão estratégica.
Análise Detalhada dos Segmentos de Negócio
A Romi estrutura suas operações em três segmentos de negócio principais, que atendem a uma gama extremamente diversificada de setores industriais, incluindo automotivo, aeronáutica, agrícola, defesa, bens de consumo e equipamentos industriais em geral. Essa diversificação é um pilar de sua estratégia de negócios.
Unidade de Máquinas-Ferramenta: Este é o core business da companhia e a base de sua reputação. A Romi produz uma linha completa de máquinas e equipamentos para trabalhar metal por arranque de cavaco, que são essenciais para praticamente qualquer processo de manufatura industrial. O portfólio inclui centros de torneamento, tornos de Comando Numérico Computadorizado (CNC), tornos convencionais, centros de usinagem e mandrilhadoras. Esses equipamentos são a espinha dorsal da produção industrial, permitindo o corte, a conformação e a furação de peças metálicas com alta precisão.
Unidade de Máquinas para Processamento de Plásticos: Atendendo a uma vasta gama de indústrias, especialmente as de bens de consumo, este segmento fabrica máquinas e equipamentos para moldar plástico por injeção e por sopro. Seus produtos são utilizados na fabricação de embalagens, componentes automotivos, eletrodomésticos e inúmeros outros itens do cotidiano.
Unidade de Fundidos e Usinados: Este segmento fornece a base material para muitas indústrias. A Romi produz peças de ferro fundido de alta complexidade, incluindo ferro cinzento, nodular e vermicular. Essas peças podem ser fornecidas em estado bruto ou já usinadas conforme as especificações do cliente, servindo como componentes para a indústria automotiva, agrícola e de bens de capital.
A diversificação de produtos e mercados da Romi é, em teoria, uma estratégia robusta para mitigar riscos, reduzindo a dependência de um único setor ou geografia. No entanto, a análise prática dos resultados recentes revela uma complexidade maior. Os resultados do segundo trimestre de 2025, por exemplo, mostraram que o desempenho fraco da unidade de Fundidos e Usinados, impactado pela desaceleração dos setores eólico e automotivo, foi suficiente para provocar uma queda de 47,2% no lucro líquido consolidado da companhia. Isso demonstra que, apesar da diversificação de receitas, a empresa possui uma alta alavancagem operacional devido aos seus elevados custos fixos, associados às suas 13 unidades fabris. Uma queda acentuada na rentabilidade de um segmento relevante não é suficientemente amortecida pelos demais, o que gera uma volatilidade significativa nos lucros. A diversificação, portanto, protege a receita de forma mais eficaz do que a lucratividade.
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Estrutura Operacional e Presença Global
A capacidade produtiva da Romi é um de seus principais ativos. A empresa opera um complexo de 13 unidades fabris, sendo 11 localizadas no Brasil e 2 na Alemanha, que somam mais de 170 mil metros quadrados de área construída. Essa estrutura confere à companhia uma capacidade instalada de produção de aproximadamente 2.900 máquinas industriais por ano e 50.000 toneladas anuais de peças fundidas.
A presença da Romi transcende as fronteiras brasileiras. A empresa consolidou uma forte atuação internacional, exportando seus produtos para todos os continentes. Essa presença global é sustentada por uma rede de subsidiárias de comercialização e serviços localizadas em mercados estratégicos como Estados Unidos, Alemanha, Itália, Espanha, França, Inglaterra e México, garantindo proximidade com o cliente e um serviço pós-venda eficiente.
Governança Corporativa e Estrutura Acionária
A Romi adota práticas de governança corporativa de alto nível, sendo listada no Novo Mercado da B3 desde sua criação. Isso garante aos acionistas minoritários direitos importantes, como o Tag Along de 100%, que lhes assegura o direito de vender suas ações pelo mesmo preço do controlador em caso de mudança de controle acionário. O Free Float da companhia, que representa a porcentagem de ações em livre circulação no mercado, é de 54%, proporcionando liquidez ao papel.
A análise da estrutura acionária revela uma forte e histórica presença da família fundadora Romi e da família Chiti em cargos-chave na administração e como acionistas relevantes. Essa característica, comum em empresas familiares de sucesso, tende a assegurar uma visão de longo prazo e um alinhamento de interesses com a perenidade do negócio. Por outro lado, a concentração de poder decisório pode ser um ponto de atenção para investidores que preferem uma base acionária mais pulverizada.
Cenário Macroeconômico e Setorial: O Ambiente Operacional da ROMI3
Dinâmica do Setor de Máquinas e Equipamentos no Brasil
O setor de máquinas e equipamentos é um dos principais termômetros da economia, pois seu desempenho reflete diretamente a confiança e a disposição de investimento do setor produtivo. A demanda por bens de capital, como os fabricados pela Romi, sinaliza que as empresas estão expandindo ou modernizando sua capacidade produtiva, um indicador antecedente do crescimento econômico futuro.
Após um período desafiador, com três anos consecutivos de retração, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) projeta uma leve recuperação para 2025, com um crescimento esperado de 3,5% no faturamento do setor. É importante notar que essa projeção parte de uma base de comparação deprimida, o que modera o otimismo. Dados mais recentes, referentes ao acumulado de janeiro a abril de 2025, corroboram uma melhora, com um crescimento de 13,4% na receita líquida em comparação com o mesmo período de 2024. Este resultado, no entanto, é atribuído tanto à base fraca do ano anterior quanto à resiliência de segmentos específicos. Indicadores mais recentes, como os de junho de 2025, já apontam para uma desaceleração, com uma queda de 5,4% na receita total de vendas em relação ao mês de maio, evidenciando a volatilidade e a incerteza que ainda pairam sobre o setor.
O Impacto da Política Monetária
O setor de bens de capital é extremamente sensível às condições de crédito e, consequentemente, à política monetária conduzida pelo Banco Central do Brasil. A taxa básica de juros, a Selic, em patamares elevados, encarece o financiamento para a aquisição de máquinas e equipamentos, desestimulando investimentos e impactando negativamente a demanda por produtos como os da Romi.
Analistas econômicos são unânimes em apontar os juros altos como o principal entrave para um dinamismo mais robusto do setor, afetando diretamente a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) do país, que é a medida do investimento na economia. A recuperação projetada pela ABIMAQ para 2025 é condicionada ao desempenho de setores menos sensíveis às taxas de juros, como aqueles que contam com programas de subsídios, o que sugere que a retomada pode ser setorialmente concentrada e não generalizada.
A performance da ROMI3, portanto, está intrinsecamente ligada ao ciclo de crédito e investimento brasileiro. A decisão de uma empresa cliente de comprar uma nova máquina é uma deliberação de capital intensivo, majoritariamente financiada. O custo desse financiamento é um fator determinante. Por isso, uma análise da ROMI3 é indissociável de uma análise da trajetória da política monetária. O crescimento observado na carteira de pedidos da companhia pode ser interpretado como um sinal de demanda reprimida, que só se converterá em crescimento de lucro sustentável quando o custo do capital para seus clientes diminuir de forma significativa. Em essência, investir em ROMI3 é uma aposta macroeconômica na queda consistente dos juros no Brasil.
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Tendências Estruturais: A influência da Indústria 4.0, automação e sustentabilidade
Além do ciclo macroeconômico, a Romi está inserida em um contexto de profundas transformações tecnológicas. A empresa tem se posicionado estrategicamente para capitalizar as tendências da Indústria 4.0, que envolve a digitalização e automação dos processos produtivos. Isso se materializa no desenvolvimento de produtos com maior tecnologia embarcada e soluções de conectividade, como a plataforma "Romi Connect", que permite o monitoramento e a gestão remota das máquinas.
A crescente demanda por eficiência energética e sustentabilidade por parte dos clientes também representa uma oportunidade. Máquinas mais modernas e eficientes, que consomem menos energia e geram menos resíduos, tornam-se um diferencial competitivo, impulsionando a troca de equipamentos obsoletos. A capacidade tecnológica da Romi nesse campo é validada por financiamentos recebidos do BNDES, destinados especificamente à produção de equipamentos com tecnologia 4.0 para exportação, o que reforça sua competitividade no cenário global.
Avaliação Financeira Aprofundada
Desempenho Histórico
A análise da série histórica dos resultados financeiros da Romi evidencia a natureza eminentemente cíclica de seu negócio. O faturamento da companhia, por exemplo, apresentou uma queda de R$ 1,59 bilhão em 2022 para R$ 1,22 bilhão em 2023. O lucro líquido acompanhou essa tendência de forma ainda mais acentuada, recuando de R$ 216 milhões em 2022 para R$ 164 milhões em 2023. Os dados dos últimos doze meses (TTM) indicam uma continuação dessa trajetória, com o lucro líquido em R$ 91,4 milhões.
Um dos pontos mais críticos revelados pela análise histórica é a divergência entre o crescimento da receita e o crescimento dos lucros. Enquanto o Crescimento Anual Composto (CAGR) da receita nos últimos cinco anos foi positivo, em 6,05%, o CAGR dos lucros no mesmo período foi acentuadamente negativo, de -11,96%. Este dado é alarmante, pois indica uma severa e contínua deterioração da capacidade da empresa de converter vendas em lucro para o acionista, seja por pressão de custos, perda de poder de precificação ou mudanças no mix de produtos.
Análise de Rentabilidade e Margens
A trajetória de queda das margens de lucro é um dos principais pontos de atenção na análise da Romi. A Margem Líquida, que chegou a ser de 17,93% em 2020, erodiu para o patamar atual de 7,1%. Da mesma forma, a Margem EBIT (lucro antes de juros e impostos) recuou de um pico de 17,03% em 2022 para os atuais 5,6%.
Os resultados mais recentes, do segundo trimestre de 2025, oferecem uma visão clara da dinâmica por trás dessa compressão. A companhia reportou que sua unidade de Fundidos e Usinados operou com margens negativas, tornando-se o principal detrator do resultado consolidado. Isso evidencia a alta alavancagem operacional da empresa: em um cenário de queda de demanda para um segmento específico, os altos custos fixos não são diluídos, levando a perdas operacionais que pressionam o resultado final.
Saúde do Balanço Patrimonial
Em contrapartida à deterioração dos indicadores de rentabilidade, o balanço patrimonial da Romi exibe uma saúde financeira robusta. A empresa mantém uma estrutura de capital conservadora e saudável. O indicador Dívida Líquida / Patrimônio Líquido está em um nível baixo de 0,43 , enquanto a relação Dívida Bruta / Patrimônio é de 0,63. Esses números indicam que a empresa não está excessivamente alavancada.
A liquidez da companhia também é um ponto forte. O índice de Liquidez Corrente é de 2,17, o que significa que a empresa possui mais do que o dobro de ativos de curto prazo (caixa, estoques, contas a receber) para cobrir suas obrigações de curto prazo (fornecedores, empréstimos de curto prazo). De forma ainda mais contundente, ao final do quarto trimestre de 2024, a companhia reportou ter mais caixa do que dívidas, uma posição de extrema solidez financeira que lhe confere resiliência para atravessar períodos cíclicos de baixa.
Geração de Caixa e Alocação de Capital
A Romi demonstra uma disciplina consistente na alocação de seu capital. A empresa investe anualmente cerca de 4% de sua receita líquida consolidada em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), um compromisso que sustenta sua capacidade de inovação e sua competitividade tecnológica a longo prazo.
No que tange à remuneração dos acionistas, a política é notavelmente agressiva. A companhia distribui uma parcela significativa de seus lucros na forma de dividendos e JCP. O payout, que é o percentual do lucro líquido distribuído como proventos, está em 65,24%, um patamar muito superior à média de 15,20% para o setor de máquinas e equipamentos.
Síntese Histórica dos Demonstrativos Financeiros
Métrica | 2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024 | TTM (Últimos 12 Meses) |
---|---|---|---|---|---|---|
Receita Líquida (R$ mi) | 973 | 1.300 | 1.592 | 1.227 | 1.220 | 1.305 |
Lucro Líquido (R$ mi) | 174 | 204 | 216 | 164 | 112 | 91 |
Margem Bruta (%) | 30,71% | 32,29% | 31,96% | 29,95% | 29,12% | 27,9% |
Margem EBITDA (%) | 14,77% | 18,35% | 20,22% | 18,68% | 14,20% | 11,72% |
Margem Líquida (%) | 17,93% | 14,73% | 13,50% | 13,37% | 9,33% | 7,1% |
Dívida Líquida (R$ mi) | N/A | N/A | N/A | N/A | N/A | 528 |
Dívida Líquida/EBITDA | 1,49 | 1,60 | 1,46 | 2,05 | 2,85 | 3,45 |
Valuation: Múltiplos e Análise Comparativa
Análise de Múltiplos de Mercado
A avaliação da ROMI3 através de múltiplos de mercado revela um quadro de aparente subavaliação, mas que exige uma análise mais profunda.
P/L (Preço/Lucro): O múltiplo P/L da empresa está em 7,80. Isso significa que o mercado está disposto a pagar R$ 7,80 por cada R$ 1,00 de lucro que a Romi gerou nos últimos doze meses. Historicamente, este múltiplo já esteve em patamares mais baixos, como 5,63 em 2022, refletindo a ciclicidade dos lucros e da percepção do mercado.
P/VP (Preço/Valor Patrimonial): Este é, talvez, o múltiplo mais chamativo para a Romi, situando-se em 0,58. Um P/VP abaixo de 1 indica que a ação está sendo negociada no mercado por um preço 42% inferior ao seu valor patrimonial contábil (o valor de seus ativos menos seus passivos). Frequentemente, um P/VP tão descontado sinaliza que o mercado tem baixas expectativas sobre a capacidade da empresa de gerar retornos adequados sobre seus ativos.
EV/EBITDA (Valor da Firma/EBITDA): Este indicador, que relaciona o valor total da empresa (valor de mercado + dívida líquida) com sua geração de caixa operacional, está na faixa de 8,11 a 9,00. É uma métrica útil para comparar empresas com diferentes estruturas de capital.
Benchmarking Setorial
A comparação da Romi com seus pares do setor de "Máquinas e Equipamentos Industriais" é fundamental para contextualizar seus múltiplos e indicadores.
Valuation: O P/VP de 0,58 da Romi é significativamente mais baixo que a média do setor (1,00), mas está mais próximo da média de seu segmento mais específico (0,47), sugerindo que o desconto é uma característica do nicho.
Dividendos: Neste quesito, a Romi se destaca de forma extraordinária. Seu Dividend Yield de 10,01% é mais de quatro vezes superior à média do setor, que é de 2,41%.
Margens: A comparação de margens revela um quadro misto. A Romi apresenta uma Margem Líquida (7,00%) superior à do setor (5,21%), mas suas margens operacionais, como a Margem EBIT (6,73%) e a Margem EBITDA (11,72%), são inferiores às médias do setor (10,23% e 16,44%, respectivamente). Isso pode indicar uma estrutura de custos fixos ou despesas operacionais mais pesada.
Métricas de Retorno sobre o Capital
As métricas de retorno são cruciais para avaliar a eficiência com que a gestão aloca o capital e gera valor para o acionista. Para a Romi, esses indicadores são um ponto de grande preocupação.
ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido): O ROE da Romi está em 7,48%. Este valor é inferior à taxa Selic, o que, em termos simples, significa que o retorno gerado pela empresa para o acionista é menor do que o retorno que poderia ser obtido em um investimento de renda fixa de baixo risco no Brasil. Além disso, o ROE da Romi está abaixo da média de seu setor (8,24%).
ROIC (Retorno sobre o Capital Investido): O ROIC, que mede o retorno gerado sobre todo o capital investido na empresa (próprio e de terceiros), está em um patamar ainda mais preocupante de 4,33%. Este valor é drasticamente inferior à média do setor (11,14%) e, muito provavelmente, está abaixo do Custo Médio Ponderado de Capital (WACC) da empresa. Um cenário onde o ROIC é consistentemente menor que o WACC indica que, para cada real investido em suas operações, a empresa está, na prática, destruindo valor.
A análise conjunta dos múltiplos e dos indicadores de rentabilidade revela a essência do dilema de investimento na ROMI3. Os múltiplos de valuation, especialmente o P/VP de 0,58, parecem muito atrativos e sugerem uma pechincha. No entanto, eles são um reflexo direto da baixa e decrescente qualidade dos lucros e da rentabilidade. O mercado não oferece esse "desconto" gratuitamente; ele está precificando a ineficiência com que os ativos da companhia estão gerando retorno, como evidenciado pelo ROE de 7,48% e pelo ROIC de 4,33%. A tese de investimento, portanto, não é simplesmente comprar barato, mas sim determinar se há um caminho crível para que a rentabilidade da Romi convirja para a média do setor. Uma recuperação cíclica, impulsionada pela queda dos juros, poderia aumentar a utilização da capacidade instalada, diluir os custos fixos e, assim, impulsionar as margens e a rentabilidade. Sem essa recuperação, o P/VP baixo pode persistir indefinidamente.
Análise Comparativa de Múltiplos e Indicadores (ROMI3 vs. Pares do Setor)
Indicador | ROMI3 | Média Setor | Média Subsetor | Média Segmento |
---|---|---|---|---|
P/L | 7,80 | 5,49 | 6,81 | 3,85 |
P/VP | 0,58 | 1,00 | 0,81 | 0,47 |
Dividend Yield (%) | 10,01% | 2,41% | 2,07% | 1,27% |
Payout (%) | 65,24% | 15,20% | 21,85% | 11,86% |
Margem Líquida (%) | 7,00% | 5,21% | 8,49% | 1,51% |
Margem EBIT (%) | 6,73% | 10,23% | 11,35% | 4,33% |
ROE (%) | 7,48% | 8,24% | 12,51% | 8,16% |
ROIC (%) | 4,33% | 11,14% | 14,46% | 17,65% |
Dívida Líq./EBITDA | 3,45 | 1,31 | 0,43 | 0,63 |
CAGR Receitas 5 Anos (%) | 6,05% | 13,62% | 13,50% | 15,70% |
CAGR Lucros 5 Anos (%) | -11,96% | 1,06% | 3,75% | 15,34% |
Política de Remuneração ao Acionista
Histórico Detalhado de Proventos
A Indústrias Romi possui um longo e consistente histórico de remuneração aos seus acionistas, o que a torna uma ação de interesse para investidores focados em renda passiva. A principal forma de distribuição de proventos tem sido via Juros sobre Capital Próprio (JCP), que oferecem uma vantagem fiscal para a empresa.
A companhia adota uma política de pagamentos trimestrais, proporcionando um fluxo de renda regular aos seus investidores, conforme demonstram os anúncios e pagamentos realizados nos últimos anos.
Análise do Dividend Yield e Payout
O Dividend Yield (DY) da ROMI3 é, sem dúvida, um de seus maiores atrativos. Atualmente, o indicador está em um patamar próximo a 10%. Este é um valor extremamente elevado para os padrões do mercado de ações brasileiro e supera com larga margem a média de 2,41% de seu setor de atuação.
Este rendimento generoso é sustentado por um Payout de 65,24%. Isso significa que a Romi distribui aos seus acionistas mais de 65% de todo o lucro líquido que gera. Embora atraente para o investidor de curto prazo, um payout tão elevado limita a quantidade de capital que é retido e reinvestido no próprio negócio para financiar o crescimento orgânico, a inovação e a expansão.
Contudo, o elevado Dividend Yield da ROMI3 deve ser analisado com uma dose de ceticismo. O indicador é calculado pela fórmula (Dividendos por Ação / Preço da Ação). O DY da Romi está alto por uma combinação de dois fatores: os dividendos pagos foram historicamente robustos, mas também porque o preço da ação sofreu uma queda significativa, de aproximadamente 24% nos últimos 12 meses. A sustentabilidade desse rendimento a longo prazo é questionável. Como os dividendos são pagos a partir do lucro, e o lucro da Romi está em uma trajetória de queda acentuada (CAGR de lucros de -11,96% em 5 anos) , a empresa enfrenta um dilema. Para manter o dividendo nos níveis atuais, precisará manter um payout cada vez mais elevado, o que pode se tornar insustentável. A alternativa seria cortar os dividendos, o que poderia frustrar a base de investidores focada em renda e pressionar ainda mais a cotação. Portanto, o DY atual não deve ser encarado como uma garantia de renda futura, mas sim como um reflexo de um passado recente mais lucrativo e de uma cotação presente deprimida.
Posicionamento Estratégico e Perfil de Risco
Cenário Competitivo e Vantagens
A Romi desfruta de uma posição de liderança no mercado brasileiro de máquinas e equipamentos, alicerçada em uma marca consolidada e uma história de quase um século de atuação. Essa longevidade e reputação de qualidade são ativos intangíveis valiosos.
Uma de suas principais vantagens competitivas é a sua extensa rede de distribuição e serviços pós-venda, tanto no Brasil quanto no exterior. Para bens de capital de alto valor, a assistência técnica e a disponibilidade de peças de reposição são fatores cruciais na decisão de compra, e a estrutura da Romi representa uma barreira de entrada significativa para novos concorrentes. Além disso, o investimento contínuo em tecnologia e inovação, alinhado com os conceitos da Indústria 4.0, permite que a empresa se mantenha competitiva frente a concorrentes internacionais, especialmente em segmentos que demandam alta tecnologia.
Recomendações Finais
O investimento em ROMI3 é adequado para um perfil de investidor com alta tolerância a risco e um horizonte de investimento de longo prazo (mínimo de 2 a 3 anos), que esteja preparado para suportar a volatilidade de curto prazo inerente a uma ação cíclica.
O principal gatilho para uma reavaliação positiva do ativo não será o crescimento da receita, que já está sinalizado pela carteira de pedidos, mas sim a demonstração de uma recuperação consistente e sustentável das margens operacionais nos próximos balanços trimestrais. Para o investidor que optar por alocar capital na empresa, o monitoramento da evolução da Margem EBIT e do ROIC é mais crucial do que o acompanhamento da cotação diária ou do faturamento. A capacidade da gestão de reverter a trajetória de queda desses dois indicadores será a prova definitiva de que a tese de valor da ROMI3 está se materializando.